domingo, 3 de abril de 2011

'SIM ' por Marta Medeiros


Você um bom emprego na hora que bem entender? 
Você descola um amor do dia para a noite? 

Se entrar num banco, sai de lá com um empréstimo sem burocracia? 
Se você respondeu sim para todas estas perguntas, parabéns. E fique atento 
para o horário de partida do seu disco voador, pois a qualquer momento você 
terá que voltar para o seu planeta. 
Entre nós, terrestres, o sim é uma resposta rara. Na maioria das vezes, não 
há vagas, não querem editar nossos poemas, não temos fiador, a garota não 
quer ouvir uns discos na sua casa, o garoto não quer usar camisinha e o 
guarda de trânsito não foi com sua cara e vai multá-lo, sim senhor. Não está fácil pra ninguém. 
Ao contrário do que possa parecer, esta não é uma visão pessimista da vida. 
As coisas são assim, dão certo e dão errado. 
Pessimismo é acreditar que ouvir um não seja uma barreira para realizar 
nossos planos. 
Tem gente que fica paralisado diante de um não. Nunca mais vai à luta. 
Já o otimista resmunga um pouco e em seguida respira fundo e segue em 
frente. 
Quando eu tinha 17 anos, mandei uns versos para um concurso de poesia. Não 
ganhei nem menção honrosa. Daí entreguei meus versos para o Mário Quintana 
avaliar. Ele não respondeu. 
Neste meio tempo eu estava apaixonada por um cara que ignorava a minha 
existência. Quando eu não estava pensando nele, fazia planos de morar 
sozinha, mas o meu estágio não era remunerado. Aí quis viajar para a Europa, 
mas não consegui entrar num programa de intercâmbio. 
Surpreendentemente, não passou pela cabeça a idéia de me atirar embaixo de 
um caminhão. 
Hoje tenho nove livros publicados (cinco deles de poesia), sou casada com o 
homem que amo, tenho a profissão dos sonhos e viajo uma vez por ano, e tudo 
isso sem ganhar na megasena, sem cirurgia plástica, sem pistolão ou pacto 
com o demônio. 
O segredo: cada não que eu recebi na vida entrou por um ouvido e saiu pelo 
outro. Não os colecionei. Não foram sobrevalorizados. 
Esperei, sem pressa, a hora do sim. O não é tão freqüente que chega a ser 
banal. O não é inútil, serve só para fragilizar nossa auto-estima. Já o sim 
é transformador. 
O sim muda a sua vida. Sim, aceito casar com você. Sim, você foi 
selecionado. Sim, vamos patrocinar sua peça. 
Quando não há o que detenha você, as coisas começam a acontecer, sim.



Um comentário:

Jaque Rodrigues disse...

É show esta nossa colunista!