sábado, 12 de fevereiro de 2011

O problema da declaração de amor é que o amor atrapalha qualquer declaração

Embaraçado. Desconsertado. Bloqueado. Paralisado. Totalmente travado. Quem nunca se sentiu assim? Sem saber o que dizer. Sem saber o que fazer. Passando a mão na cabeça. Sacudindo a perna sem parar. Mordendo a tampa da caneta. Girando o botão da blusa. Tentando desviar olhares, enquanto procura assuntos. E na atrapalhação, cruzando olhares, olhares e mais olhares, enquanto perde o fio da meada. Maldita noção que agora, justo agora, chegou a hora de tudo ou nada. E que se você insistir em ficar assim, quieta, calada, silenciosa, lacônica, listando descontroladamente sinônimos para a palavra ''mudo'', a grande oportunidade da sua vida vai ser desperdiçada. Você ensaia o que vai dizer. Você decora o que vai falar. Você tem vontade de gritar. Mas não grita. Nem ao menos sussurra. No máximo geme. De angústia. Você apela a São Vitor, o santo dos neuróticos. Lembra de Santo Antônio, o santo casamenteiro. E nada. Necas de pitibiriba. O troço, o lance, o papo, a coisa tá na ponta da língua. É como se você estivesse com o coração na boca. Passa uma ideia maluca na sua cabeça. Botar a língua pra fora e mostrar o que está ali, entre dentes. Mas convenhamos, ficar mostrando a língua para a pessoa a sue lado é o que está faltando para você se revelar o sujeito mais esquisito do planeta. Você toma coragem (já tomou algumas cervejas) e decide, sim, decide mesmo, decide que vai soltar o verbo. Diz apaixonada: ''Você sabia que ' quaisquer' é única palavra da língua portuguesa em que o plural aparece no mio e não no fim?''
Pronto, a pessoa ao seu lado se convence de que, definitivamente, você é o ser mais esquisito do planeta.


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