domingo, 28 de fevereiro de 2010

Este ano eu quero que você olhe para o céu. Mais de uma vez. E outra vez. E de novo.
Este ano eu quero que você cante no chuveiro. Dance na sala. Faça shows de air guitar em frente ao espelho. Execute moonwalks em cima da cama. Rebole na cozinha.
Este ano eu quero que você durma sem roupa.
Este ano eu quero que você beba vinho barato, sem frescura. Quero que você beba o vinho mais caro, sem culpa. Quero que você coma o PF do botequim mais blergh e o prato mais sofisticado, feito pelo melhor chef no restaurante mais uau de Paris. E que os dois sejam as melhores coisas que você já comeu na vida.
Quero que você voe. De avião. De asa-delta. Sem sair da cadeira. Apenas, voe.
Quero que você roce os pés nas nuvens, e que meta seu sapato mais caro na lama, e que enrole as calças até os joelhos e pise na areia, e que pule corda na grama com os amigos, e que você levante os pés e deixe o sol queimar o lado de baixo de seus dedos.
Quero que você ande mais. E mais devagar. Que seu pescoço gire mais e você veja o que acontece à sua volta. Quero que você olhe para baixo e veja como é o seu caminho. E que você olhe para a frente. E continue vendo o seu caminho. E que você continue andando, sem ver muito bem o que tem atrás do morro. E que, o que é que tem?, de vez em quando você arrisque um caminho novo, que te leve até onde você nunca imaginou.
Este ano eu quero que você mergulhe de cabeça e encoste, de leve, a ponta do nariz no fundo do mar.
Este ano quero que você rasgue fotos de quem, do que, de quando e de onde não interessem mais. Quero que você fotografe sem câmera, e que registre o sorriso de quem você gosta, e o cheiro do lugar que você adora, e a cor do ar que você melhor respira.
Este ano, quero que a língua que te faz esquecer daquele negócio, como é que se chama, acho que é mundo, não é?, lamba o seu corpo todo dia.
Este ano, quero que você escute música. Mais música. Mais música. Mais música. Mais música. Melhor: este ano, seja A música.
Por favor, saia do emprego. E arrume um trabalho.
Quero que você chore no cinema. Quero que você coma pipoca no cinema. Quero que você tenha dor de barriga de tanto rir no cinema. Quero que você saia do cinema, mas que o cinema nunca saia de você.
Este ano quero que você ande de roda-gigante.
Este ano quero que você pule de pára-quedas.
Este ano quero que você dê cambalhotas, três ou quatro por dia.
Este ano quero que você roa as unhas.
Este ano quero que você ande de meias no asfalto.
Este ano quero que você tome sorvete. Muito sorvete. Com calda de chocolate.
Este ano quero que você pule de barriga na pilha de ovos no supermercado.
Este ano quero que você aposte que consegue ir mais longe do que todo mundo pisando só nos ladrilhos pretos da calçada.
Este ano quero que você passe noites sem dormir porque tem vontade, e durma o máximo que puder se é isso que lhe faz feliz.
Este ano quero que você, apenas, sorria.
Este ano quero que você faça o que for preciso, o que for imprescindível, o que for inimaginável, e o que for o que você acredita que seja o mais importante para sua vida deixar de ser boa e passar a ser espetacular, sensacional, formidável, inacreditável.
Este ano quero que você faça tudo isso. E mais. E mais. E mais.
E que me leve, sempre, com você.



(Não é meu! Publicado em http://farinhada.blogspot.com no dia 30/12/08 por André Gonçalves)

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